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“Se não pode te matar, não é extremo?” e como o Kung Fu poderá lhe ‘guiar’ nessa “nova era” sem os grandes ‘gurus’

Em novembro de 2023 0 ‘Ultimate Fighting Championship’, maior torneio de artes marciais mistas do mundo completa 30 anos de existência e apesar da ‘Shaolin Kung Fu Qigong & Tai Chi’ ser uma publicação voltada para as artes marciais chinesas resolvi aproveitar o “gancho”, pois a edição inaugural da revista ainda estará em circulação neste mês, então julgo o assunto oportuno.

Posso falar do MMA com propriedade, já que fiz a minha estreia na modalidade em 1998, um esporte extremo. Eu continuo participando dessas competições, apesar de já ser um homem de meia-idade. Sou originário do Kung Fu, tendo iniciado a minha prática em 1990.

Ao longo dessa jornada, tive a felicidade de conhecer alguns dos maiores nomes do Wing Chun no Brasil, entre estes Sifu Geraldo Monnerat, Sifu Leo Imamura e, claro, Sifu Alex Magnos, que “abriu os meus olhos” para ‘aspectos’ do Kung Fu que eu até então desconhecia. Foi ainda graças às artes marciais chinesas que ‘lapidei’ o talento – que dizem que tenho – para a escrita.

Aprecio a pratica de esportes ligados à natureza e também sou um ‘buscador da espiritualidade’, preocupado em ‘acelerar o processo’ de desenvolvimento espiritual dos meus semelhantes. Resolvi então “linkar” todas essas distintas ‘paixões’ em um único artigo, que traz uma ‘mensagem’ e eu ainda deixo uma “reflexão” para cada um de nós, enquanto cidadãos. Mesmo que não seja de imediato, a ‘mensagem’ poderá ser interpretada pelos leitores, ao menos por aqueles com maior capacidade cognitiva, após alguma “reflexão”. Eu também não poderia deixar de enfatizar a importância do Kung Fu nesse processo.

A crescente popularidade dos esportes extremos e de aventura, muitas vezes considerados de alto risco, é cada vez mais patente em nossa sociedade. Em contrapartida, o declínio da prática dos esportes ditos convencionais ( tais como o vôlei, o basquete e o ‘baseball’ ) é cada vez mais evidente. As gerações que nos antecederam viveram com a incerteza e a insegurança do amanhã, o que gerava a angústia e o medo do porvir.

Atualmente, os riscos à nossa existência são minimizados diariamente em todo o mundo ( ao contrário do que dizem os fundamentalistas religiosos ) e, apesar da corrupção política, há uma sensível melhora na qualidade de vida da população ( exceção feita aos países extremamente pobres ), além dos avanços tecnológicos. Assim sendo, a maioria das pessoas procuram se ariscar cada vez mais competitivamente, colocando-se “à beira do abismo”, vivendo ‘no limite’ e encarando o medo. Nesse contexto, a prática dos esportes radicais pode não se apresentar como algo tão extremo.

Os atletas vencedores se destacam na mídia geral e especializada e, entre estes, os lutadores profissionais de artes marciais servem de referência ao público. Obviamente, estes atletas têm os seus programas de treinamentos copiados por jovens aspirantes ao ‘estrelato’. Mas estes últimos deveriam ser mais justos consigo mesmos, diríamos. O treinamento de um ‘astro’ do ‘UFC’ não é causa, é consequência do patamar já atingido. ( Vou evitar falar aqui sobre o jogo político e sobre outras nuances dos bastidores ).

Ainda assim, muitos entusiastas das artes marciais passarão horas e horas praticando inúmeras técnicas de socos e chutes. Eles incluirão em suas rotinas um cansativo programa de treinamento cardiovascular e irão ‘religiosamente’ para a sala de musculação em uma tentativa de melhorar a resistência e aumentar a força. Muitos destes estudantes ainda forçarão tantos os seus músculos em sessões de flexibilidade que correrão o risco de esgarça-los.

A grande maioria dará muita ênfase ao treinamento ‘cruzado’ de distintas artes marciais antes do amadurecimento necessário para compreende-las individualmente. Ademais, muitos levarão tantos socos em suas estreias no ‘octógono’ que nem terão chance de revidar. Eles são orientados demais para o ataque – “yang” demais e “yin” insuficiente – e quando se é duro e agressivo demais contra alguém que é o mesmo acontece o “choque”. “Chocar-se” é para rinocerontes, carneiros e jogadores de futebol americano ( ‘NFL’ ).

Se você deseja tornar-se um artista marcial proeminente, comece à pensar como um e adote os princípios e táticas de lutas enfatizados pelos antigos mestres de Kung Fu do passado na China. Um dos meus antigos mestres, inclusive, me disse que deveríamos tentar encontrar um equilíbrio e desenvolver as nossas técnicas marciais, filosofia e saúde, “sem pender” para um ou para o outro.

Obviamente, a melhor forma de desenvolver tais atributos é sob a orientação presencial de um tutor qualificado e os sistemas de Kung Fu tem diversidade suficiente para satisfazer as exigências pessoais dos praticantes mais discriminatórios e exigentes. Há estilos com formas muito bonitas, outros voltados para a auto-defesa, alguns enfatizam mais a manutenção e/ou recuperação da saúde, sem esquecer, é claro, daqueles que “vão do obvio ao esotérico”.

Mas, eu gostaria de orientá-los, desde já, que Kung Fu é para ser experimentado, não conquistado e posto de lado. Kung Fu é assim como a própria vida. Enquanto você está vivo, você está aprendendo sobre a vida. Enquanto você estuda Kung Fu, você está aprendendo sobre ele. Então, usufrua ao máximo do seu tempo como estudante. Assim, você descobrirá se deverá se profissionalizar ou não, seja como orientador, seja como competidor, seja em outro meio com uma profissão “secular”.

Aqueles que fazem parte de alguma ‘ordem iniciática’ sabem que “a era dos grandes ‘gurus’ acabou. Há somente ‘orientadores’ e é preciso tornar-se o ‘líder’ do seu próprio destino”. Nesse processo de autoconhecimento ‘todo e qualquer’ sistema de Kung Fu acaba por se tornar uma ferramenta muito valiosa.

No início deste artigo, eu falei que “os riscos à nossa existência são minimizados diariamente”. Contudo, é preciso autoconhecimento para saber “como lutar”, quando e ‘se é necessário’ fazê-lo, se não estaremos ‘lutando por tudo e por nada’ e aí sim, corremos sério risco de nos destruir, enquanto indivíduos.

Os esportes extremos trazem um risco a vida do praticante, mesmo quando bem supervisionados e regulamentados. Mas será que o dinheiro ‘posto sobre a mesa’ compensa o risco? Ou os competidores estão sendo impulsionados por sentimentos inconscientes? Quem sabem estejam apenas tentando fugir da entediante sensação de segurança em suas vidas. Pois, “se não pode te matar, não é extremo”?

Por outro lado, há quem duvide da existência de atletas movidos apenas pelo prazer da experiência, não esperando nada em troca, muito menos fama e dinheiro. De uma forma ou de outra, eu espero que as artes marciais chinesas lhe sirvam como um ‘guia’ nessa “trilha de aventura” que é a vida, afinal “Kung Fu é tudo”.

*P.S.: Eu não sou mais um praticante de Wing Chun e atualmente me dedico à outro sistema de Kung Fu. Não represento nenhum dos mestres citados no artigo acima. Alguns destes eu conheci por ocasiões de ‘Workshops / Seminários’. Já outros eu convivi por mais tempo como um estudante regular.

*Texto do colaborador Oriosvaldo Costa, “Mr. Kung Fu” | Em 30/10/2023 | Writer ‘Shaolin Kung Fu Qigong & Tai Chi’
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Legenda : “A era dos grandes ‘gurus’ acabou. Há somente ‘orientadores’ e é preciso tornar-se o ‘líder’ do seu próprio destino”.
Foto : ( Cortesia | Créditos : © Lung Yi Lik | Reprodução / © Facebook | © Alex Magnos | © Red Dragon Publisher | © Shaolin Boxing | @alexmagnos | @reddragonpublisher | @sbawingchun | Reprodução / © Instagram | @TheComicCreator | @RedPublisher | @SBAWingChun | Reprodução / © Twitter | Divulgação ).

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