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Fundação Iberê inaugura exposição sobre relação do artista com Porto Alegre nos 250 anos da cidade

Será aberta neste sábado (12), às 11h, a exposição “Iberê e Porto Alegre – No andar do tempo”, uma mostra de arte da Fundação Iberê que celebra os 250 anos da Capital.

Com organização de Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai, serão apresentadas 38 obras do acervo, entre pinturas e desenhos — um passeio pelo olhar do artista que dá nome ao centro cultural por alguns locais significativos da capital gaúcha, como a Cidade Baixa, a Catedral Metropolitana, a Praça da Matriz, a Ponte de Pedra, a Rua da Praia, a Usina do Gasômetro, o Parque da Redenção e o pôr-do-sol do Guaíba.

“Em textos memorialísticos, Iberê mostra especial interesse pelas sangas, águas turvas e árvores retorcidas. São aspectos da paisagem que sempre o atraíram e que encontrará também em Porto Alegre“, comentam os organizadores.

Algumas delas serão expostas pela primeira vez no atual prédio da Fundação, que completa 14 anos no dia 30 de maio. A mostra integra o calendário oficial das comemorações do aniversário de Porto Alegre e segue até 31 de julho.

Iberê e a cidade

Iberê Camargo nasceu em em Restinga Seca, a 257km de Porto Alegre, mas sempre teve laços muito fortes com a Capital. Em 1935, aos 22 anos de idade, mudou-se para a capital gaúcha.

Morando em uma pensão do centro da cidade, começou a trabalhar como desenhista técnico na Secretaria Estadual de Obras Públicas e a frequentar o Curso Técnico de Desenho de Arquitetura do Instituto de Belas Artes – o qual abandonou depois de três anos para dedicar-se à arte – e onde conheceu Maria Coussirat Camargo.

Em julho de 1970, em uma carta de agradecimento à Câmara de Vereadores pelo título de cidadão de Porto Alegre, ele decreveu sua relação com a cidade.

“Foi nesta cidade, na igreja do Menino Deus, que recebi o batismo e o nome. Meu pai, então agente da estação de Restinga Seca, minha terra natal, escolheu a capital do nosso querido Rio Grande, como primeiro marco da minha humanização (…) Gosto de perambular, sonhando, pelas tuas mais antigas ruas cheias de sol e poesia. Olaria, Varzinha, Arvoredo – Oh! a rua da Praia dos encontros e dos namoros! Praça da Alfândega, do Portão, da Matriz… são ilhas cheias de verde e de luz. Nomes que nasceram da poesia popular e foram guardados na boca do homem, no tempo que torna as coisas sagradas. Lugares cheios de histórias… História do povo… história de gente… História simples da vida, do dia a dia em que cada um é herói, sem o saber. O caminho, amigos, é o rasto do homem. E o rasto é a sua história. Na trilha das gerações plasmam-se o ontem e o hoje. Cidade de Porto Alegre, perto ou distante, vejo-te refletida no Guaíba que tem feição de mar, onde todas as tardes o sol se esvai num lençol de Sangue…”, escreveu.

Mesmo no período em que morou no Rio de Janeiro, de 1942 a 1982, Iberê manteve seu ateliê ativo na Cidade Baixa, bairro que viveu com Maria. Lá, produziu uma série de pinturas de paisagem às margens do riacho que atravessa a parte baixa da cidade, realizados durante seu período de formação.

“O artista situa-se entre a pastoral da cidade moderna e o luto da velha cidade, que ia desaparecendo lentamente e cuja modernização se aceleraria muito na década de 1970, levando Porto Alegre a uma crise urbana e a necessidade de elaborar planos diretores e realizar cirurgias urbanas, que naqueles contextos fizeram aumentar a distância entre as elites e as classes populares, gerando segregação e desigualdades sociais na ocupação do espaço urbano”, diz Charles Monteiro, pesquisador da PUCRS e Pós-doutor em História Social e Cultural da Arte.

Ao retornar a Porto Alegre, em 1982, Iberê foi morar na rua Lopo Gonçalves, muito próximo ao Parque da Redenção, e, por isso, suas idas ao parque tornaram-se frequentes, tanto para a prática de caminhadas quanto para os passeios dominicais no Brique da Redenção, ao lado de sua companheira Maria.

Dessas andanças no mais tradicional parque da cidade, Iberê passou a realizar esboços e desenhos de observação que captavam a vegetação retorcida ou os mais variados tipos de frequentadores, desde os que geraram sua emblemática série “Ciclistas” até famílias e pessoas em situação de rua, gerando um testemunho do obsessivo espírito de pesquisa do artista.

Outro lugar muito frequentado por Iberê era a Rua dos Andradas, onde viu-se atraído pelos manequins expostos nas vitrines, ao ponto de torná-los um dos motivos centrais de sua última produção. Reduzidos ao plástico nu ou enfeitados de uma maneira que não deixa de ser grotesca, em seu retorno à figuração, os manequins de Iberê afastavam-se de qualquer busca de sedução do belo.

Ao final da vida, Iberê e Maria Coussirat Camargo se mudaram para o bairro Nonoai, na parte alta de Porto Alegre. O pôr do sol visto da janela de seu ateliê inspirava, por exemplo, o astro vermelho que se apresenta misteriosamente em um estudo e em um guache de sua fase final, e no alaranjado que inunda o fundo de sua última pintura, “Solidão”, realizada em 1994, ano do seu falecimento.

Fonte: G1

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